Dia das Mães: da origem histórica às celebrações globais

Mais do que flores e presentes, o Dia das Mães carrega uma trajetória fascinante – desde suas raízes no ativismo feminino até se tornar uma das datas mais celebradas no mundo.

5/11/20257 min read

Origens: Um movimento pela paz

A data surgiu nos Estados Unidos no início do século XX, impulsionada por Anna Jarvis, que honrou sua mãe, ativista comunitária, e defendeu um dia dedicado à paz e ao reconhecimento do papel materno. Em 1914, foi oficializada nos EUA.

Transformação e impacto global

Com o tempo, a data foi adotada por diversos países, cada um adaptando suas tradições:

  • Brasil: Introduzido em 1932, tornou-se fortemente associado ao consumo, mas mantém seu valor afetivo.

  • México: Celebrado com serenatas e festas familiares.

  • Japão: As mães recebem cravos, simbolizando pureza e resistência.

Novos significados

Hoje, a data também reflete múltiplas formas de maternidade e é marcada por campanhas que discutem desde a sobrecarga materna até a inclusão de diferentes estruturas familiares.

Uma homenagem que continua a evoluir, unindo história, afeto e crítica social. 💐

As raízes históricas do Dia das Mães: do pacifismo à celebração global

Antes de se tornar a data comercial que conhecemos hoje, o Dia das Mães teve origens profundamente ligadas ao ativismo e à luta pela paz.

A primeira iniciativa: um chamado pela paz (1872)

Em pleno pós-Guerra Civil Americana, a escritora e ativista Julia Ward Howe propôs algo revolucionário: o "Mother's Day for Peace" (Dia das Mães pela Paz), celebrado em 2 de junho.

  • Objetivo: Unir mães na promoção do pacifismo e na reflexão sobre os horrores da guerra

  • Celebrações: Ganhou força em cidades como Boston e Filadélfia

  • Declínio: O movimento perdeu impulso com o advento da Primeira Guerra Mundial

O renascimento no século XX

Foi apenas nas primeiras décadas do século 20 que a data ressurgiu, agora com um caráter mais pessoal e familiar, graças aos esforços de Anna Jarvis.

Esta história revela como uma data aparentemente simples carrega em suas origens um potente movimento social - muito diferente das flores e presentes que marcam a celebração hoje.

Os pioneiros que moldaram o Dia das Mães

Antes de se consolidar como data oficial, a criação do Dia das Mães contou com várias tentativas importantes:

  • Mary Towles Sasseen (1887): A professora criou um manual para celebrar a data nas escolas, mas a iniciativa não saiu do Kentucky.

  • Frank Hering (1904): O ativista foi o primeiro a propor publicamente um feriado nacional em homenagem às mães.

Anna Jarvis: a realizadora do sonho

A verdadeira força por trás da data foi Anna Jarvis, que transformou o desejo em realidade. Movida pelo desejo de homenagear sua mãe, Ann Jarvis – enfermeira voluntária na Guerra Civil e ativista por melhores condições educacionais –, ela organizou em 1908 a primeira celebração oficial.

  • Eventos marcantes: A homenagem aconteceu simultaneamente na Virgínia Ocidental e em uma loja da Filadélfia, com apoio do empresário John Wanamaker.

  • Símbolo da data: Cravos brancos foram distribuídos aos participantes, tornando-se um ícone da celebração.

  • Impacto imediato: Cerca de 15 mil pessoas compareceram, consolidando o movimento que levaria à oficialização da data.

Como explica a historiadora Lilia Schwarcz, foi essa combinação de ativismo, memória afetiva e engajamento comunitário que deu origem ao Dia das Mães que conhecemos hoje. 🌸

A oficialização do Dia das Mães e o paradoxo de sua criadora

Em 1914, seis anos após a primeira celebração organizada por Anna Jarvis, o então presidente americano Woodrow Wilson transformou o segundo domingo de maio no Dia das Mães oficial dos EUA – um feriado nacional dedicado às mães.

Uma vitória com sabor amargo

Assim como outros inventores que viram suas criações tomarem rumos inesperados, Anna Jarvis testemunhou sua homenagem materna se transformar em algo que ela não imaginava:

  • Santos Dumont e Einstein: Viram suas invenções serem usadas para fins bélicos

  • Jenna Karvunidis: Criadora (e depois crítica) do "chá revelação" de gênero

  • Anna Jarvis: Assistiu à data que idealizou se tornar cada vez mais comercial, distante de seu propósito original de celebração íntima e afetiva

A história do Dia das Mães, portanto, não é apenas sobre flores e presentes – é também sobre como as boas intenções podem escapar ao controle de seus criadores, ganhando vida própria na cultura e no comércio. 💐

A idealizadora que se revoltou contra o próprio legado

A historiadora Lilia Schwarcz revela o paradoxo do Dia das Mães: "A comercialização foi tão rápida que a própria Anna Jarvis teria renegado a data que criou". O que começou como uma homenagem sentimental transformou-se em um fenômeno de consumo.

O protesto da criadora

  • Críticas aos cartões postais: Jarvis detestava a ideia de mensagens prontas, defendendo que as homenagens fossem escritas à mão, com dedicatórias pessoais

  • Batalha contra o comércio: Ela chegou a organizar boicotes e protestos contra lojas que exploravam a data

  • Ironia histórica: A mulher que lutou por um dia de reconhecimento genuíno viu sua criação ser sequestrada pelo capitalismo

Como observa Schwarcz, a tensão entre sentimento e comercialização continua definindo a data até hoje - um legado que Jarvis, paradoxalmente, tentou destruir. 💌✊

O trágico fim da criadora do Dia das Mães

Em uma ironia cruel do destino, Anna Jarvis - a mulher que dedicou sua vida a criar uma homenagem genuína às mães - passou seus últimos anos lobrigando contra a comercialização da própria data que idealizou.

Um legado contraditório

  • Batalha solitária: Jarvis gastou sua fortuna pessoal em processos judiciais contra empresas que exploravam a data

  • Declínio trágico: Aos 84 anos, morreu internada e sem recursos em um sanatório na Filadélfia (1948)

  • Última ironia: Seu funeral foi custeador por floristas - justamente os comerciantes que tanto combatia

A história de Jarvis permanece como um alerta sobre como o capitalismo pode distorcer até as melhores intenções, transformando sentimentos puros em oportunidades de negócio. Sua vida terminou como um símbolo perfeito dessa contradição. 💐⚰️


A história do Dia das Mães no Brasil: de instrumento político à celebração plural

A oficialização sob Vargas (1932)

O Dia das Mães foi instituído no Brasil por decreto de Getúlio Vargas, em um contexto político estratégico:

  • Primeiras celebrações: Já ocorriam desde 1918, promovidas pela Associação Cristã dos Moços no RS

  • Objetivo governamental: Criar a imagem do Brasil como uma "grande família", com Vargas como "pai da nação"

  • Conexão histórica: Coincidiu com a conquista do voto feminino no mesmo ano

Como explica a historiadora Lilia Schwarcz, a data servia para:
"Fortalecer a imagem da mulher como mãe doméstica e submissa, em oposição ao movimento feminista emergente"

A influência da Igreja e do consumo

  • Apoio católico: A data foi incorporada ao calendário religioso nos anos 1920

  • Urbanização e comércio: Como destaca o professor Marcelo Rezende (PUC-MG), a popularização coincidiu com:
    ✓ Crescimento das cidades
    ✓ Expansão da mídia
    ✓ Desenvolvimento do varejo

A evolução do significado

De celebração conservadora, a data hoje reflete diversas formas de maternidade:

  • Dos anos 1930: Presentes domésticos (panelas, eletrodomésticos)

  • Século XXI: Itens pessoais, experiências e homenagens a:
    ✓ Mães trabalhadoras
    ✓ Mães solo
    ✓ Mães LGBTQIA+
    ✓ Madrastas e figuras maternas não biológicas

Como conclui Schwarcz:
"A maternidade se pluralizou. Hoje celebramos todas as formas de cuidar e amar"

Uma trajetória que vai da instrumentalização política ao reconhecimento da diversidade familiar. 💐

Dia das Mães no Mundo: Tradições, Presentes e o Dilema Entre Afeto e Consumo

A Evolução dos Presentes: Do Utilitário ao Pessoal

Como explica o professor Marcelo Rezende, a simbologia da data permanece, mas os presentes mudaram:
"Hoje, não se presenteia mais com panelas — isso não é bem-visto. Agora, o foco está em itens pessoais, como roupas ou maquiagem. O afeto continua, mas com novos significados."

Como o Mundo Celebra o Dia das Mães?

Enquanto Brasil, EUA, Japão e Austrália adotam o segundo domingo de maio, outros países têm datas e tradições distintas:

  • Reino Unido: "Mothering Sunday" (4º domingo da Quaresma, geralmente em março), com flores e almoços em família.

  • México: 10 de maio, um dos feriados mais importantes, marcado por serenatas e celebrações escolares.

  • Tailândia: 12 de agosto, aniversário da Rainha Sirikit, com cerimônias patrióticas.

  • Etiópia: Festival Antrosht (entre outubro e novembro), com danças, cantos e banquetes tradicionais.

  • Rússia e ex-países soviéticos: O 8 de março (Dia da Mulher) ainda é a principal homenagem às mães.

O Dilema: Afeto x Comércio

Desde sua criação, o Dia das Mães oscila entre homenagem sentimental e apelo comercial. A própria idealizadora, Anna Jarvis, passou a vida lutando contra a exploração da data — uma contradição que persiste até hoje.

"O que começou como um gesto de amor virou um fenômeno de consumo. Mas, no fim, o que importa é celebrar todas as formas de maternidade." 🌸

Dia das Mães: Entre o Comércio e a Representatividade

O Domínio do Varejo

Apesar dos esforços de sua criadora, Anna Jarvis, o Dia das Mães se tornou uma das datas mais lucrativas do ano. No Brasil, sua ascensão acompanhou o boom do varejo nas décadas de 1960 e 1970, consolidando-se nos anos 1980. Hoje, é a segunda maior data comercial, atrás apenas do Natal.

A Maternidade Retratada pela Publicidade

Por décadas, a propaganda reforçou um estereótipo limitado:

  • Anos 1950-1960: Mães brancas, donas de casa, presenteadas com utensílios domésticos (panelas, aspiradores).

  • Anos 2000 em diante: Mães independentes e vaidosas, mas ainda majoritariamente brancas, de classe alta e heteronormativas.

Como aponta Lilia Schwarcz:
"Era uma visão excludente, que ignorava mães negras, periféricas, solo ou LGBTQIA+. Só recentemente, com pressão social, a publicidade começou a abrir espaço para outras realidades."

Consumo Afetivo ou Comercialização?

O professor Marcelo Rezende pondera:
"O consumo tem um lado simbólico — presentear é um ato de afeto. Mas a publicidade ainda prioriza um perfil que não reflete a diversidade brasileira, onde 55,5% da população é negra."

Apesar dos avanços, o desafio permanece: celebrar todas as mães, não apenas as que cabem no padrão de mercado. 💐✨